Nós que moramos fora somos movidos por uma fé, uma certeza e uma esperança de que tudo vai dar certo difícil de explicar.
Quando a gente vai morar fora, levamos conosco de tudo um pouco. São roupas, sapatos, casacos, fotografias, uma mochila com um kit de sobrevivência, nosso computador e celular, muita saudade e uma fé que não cabe em nós e não conseguimos explicar. Não, a fé que eu me refiro não tem relação com religião, estou falando da fé que a gente tem na gente. Uma fé em nós mesmos que temos por alimentar a ideia de que tudo vai dar certo, precisa dar certo, custe o que custar.
Aos corajosos… desafio
Do dia em que decidimos que vamos morar fora até que isso, realmente aconteça, somos desafiados. Somos desafiados pelos “de casa” e pelos “da rua”, por todos e por tudo.
Os mais próximos, aqueles que são bem céticos quanto a nossa partida, farão perguntas e afirmações pontuais e irão, de alguma forma, tentar nos desestabilizar.
Lembro que me perguntavam coisas como: “mas você vai viver do que lá?” — isso quando não faziam afirmações no melhor estilo “ele não está ouvindo” e, entre eles, diziam: “tem que ser muito louco para largar tudo aqui e se arriscar num país estranho”.
Confesso que, mesmo morrendo de medo, eu já estava mais do que decidido quando anunciei que estava partindo, então os comentários entravam por um ouvido e saiam pelo outro, mas no caminho davam uma amolecida nas pernas.
Leia também: Morar fora: ou você muda ou você volta.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Nossa fé nos move
Quando a gente veio não tinha emprego garantido, não sabia onde ia morar e nem o idioma dominava direito. Você pode fazer todas as aulas do mundo, mas só vai aprender a falar uma língua quando vivenciar essa língua no dia a dia e por algum tempo.
Muitos de nós nunca tinha passado mais de três horas num avião, mas carregava no peito e na mente uma fé, uma coragem e uma vontade em enfrentar o novo que nem o pior dos pensamentos seria capaz de nos fazer desistir.
Sim, para a grande maioria de nós, morar fora era o grande sonho da vida e nós, diferente de muitas pessoas, partimos para a realização desse sonho, mesmo com todas as incertezas possíveis e existentes na face da Terra. E acredite, são mais incertezas do que todos os grãos de areia de uma praia.
Morar fora: é de chorar de saudade
Pensando positivo
Quando você estiver sentindo o maior frio que você jamais imaginou sentir, tomar um banho de chuva em um temporal com vento daqueles de filme. Quando você tentar se comunicar e não conseguir, estiver com a grana contada a milhares de quilômetros de casa, você terá duas alternativas: pensar positivo ou achar que tudo vai dar errado.
Sugestão de quem já mora fora há algum tempo: pense positivo. Vá até a loja mais próxima e que, de preferência tenha uma promoção de jaquetas e dê um jeito nesse frio todo que você está sentindo, deixe a chuva bater na sua cara e entenda essa situação apenas como mais um dos tantos desafios.
Tente pensar positivo porque, mesmo que demore um pouco mais do que você queria e tinha planejado, as coisas vão entrar nos eixos. Devagarinho as coisas se ajeitam. Pense positivo porque em você, de alguma maneira, já existe uma certeza de que tudo vai dar certo. É a tal fé que a gente tem, sente e não sabe explicar.
Acredita que dá
Se você não acreditasse não tinha partido. Se você não tivesse fé, jamais teria deixado sua antiga vida para trás. De alguma forma você, e todos nós que moramos fora, acreditamos.
Nossa motivação reside justamente no fato de que, uns mais e outros menos, nós entendemos que só acreditando na gente é que garantiremos o nosso futuro tão longe da nossa cidade, do nosso país, da nossa família e dos nossos amigos. Foi acreditando que a gente chegou onde chegou, foi tendo fé que surgiu o nosso primeiro emprego na gringa, foi pensando positivo que o visto saiu e as coisas se ajeitaram.
Se você está pensando em morar fora e não é muito de acreditar em você, nos seus feitos e nas suas conquistas, trate já de mudar isso. Vire a chave, comece a pensar positivo e, sem pestanejar, a acreditar mais em você.
Nós que atravessamos a fronteira já percebemos isso e lhe desafio: faça um teste com algum familiar, amigo ou conhecido que mora fora e você descobrirá, da maneira mais empírica e simples possível, que eles ou elas que partiram para o desafio de morar fora são pessoas de fé.
Pessoas que acreditam, antes de tudo e de todos, nelas mesmas. Pessoas que não se abalam com pouca coisa, que são “ponta firme”, que aguentam tudo e mais um pouco, que arranjam uns trabalhos loucos para ganhar alguma grana, que fazem amizade fácil, que se viram numa garrafa e estão, cada uma ao seu modo, sobrevivendo. É a vida de quem mora fora e, se tem uma coisa que a gente gosta, é dessa vida.
ATENÇÃO: os textos de Cláudio Abdo publicados aqui no site Vagas pelo Mundo viraram um livro com título livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir” (com textos inéditos). Caso você queira comprar um exemplar autografado e com uma dedicatória exclusiva do autor, envie um e-mail para: [email protected] | Assunto: LIVRO. Nós lhe enviaremos todas as informações. Corra que os exemplares são limitados!