Morar fora é um processo contínuo de construção e desconstrução que, por vezes, assusta.
Não basta que sejamos mestres do desapego, que saibamos nos desprender de pessoas e coisas. Antes de partirmos para a nossa nova vida, tentamos e travamos uma luta para que as amarras que nos prendem se soltem, para que, aquilo que tenta nos manter imóveis seja desfeito e, consigamos ir em frente. Para que isso aconteça da melhor forma, iniciamos um processo de desconstrução daquilo que éramos e começamos uma luta para começarmos a nos reconstruir, mesmo que num outro lugar. Porém, mal sabemos que, para quem mora fora, essa desconstrução e posterior reconstrução será ad aeternum.
Transformação
É claro que não deixamos de ser aquilo que éramos antes da partida, em termos. É óbvio que aquilo e aquelas coisas, experiências e pessoas que ajudaram a nos construir enquanto pessoas fazem parte de nós, porém quando partimos para morar fora alguém aperta o botão da transformação e ela logo se inicia.
Inicia já nos preparativos, quando nos vemos obrigados a decidir entre o que serve e vai continuar conosco, e aquilo que não cabe mais na nossa vida e será vendido ou doado. Aqui é que a gente sente o primeiro impacto da transformação que começa a acontecer e não vai mais parar.
Desconstruindo
Algo nos diz que devemos parar, mas não conseguimos. Estivemos parados por muito tempo e, agora, precisamos caminhar, tirar o atraso, queremos viver, nos libertar, nos encontrar. As tais ‘verdades da vida’ estão prestes a ser desconstruídas e nós vamos nos despedaçando.
Tudo é posto em xeque, tudo é questionado, valores absolutos começam a perder a certeza e isso tudo é resultado do novo que nos é esfregado na cara. É, muitas vezes a verdade vai parecer menos verdadeira, a certeza se mostrará tão incerta como a cotação do dólar de amanhã. É natural passarmos por isso, claro, estamos nos desconstruindo para, em breve, recomeçarmos.
Construção
Depois que chegamos na nossa nova vida, saímos em busca dos nossos pedaços. Começamos a entender porque cada vez mais gente resolve morar fora, iniciamos um processo de aceitação do diferente, de vermos, na prática, que a vida é uma salada de frutas.
O vizinho querido de antes não existe agora, a casa dos nossos pais está distante, nosso carro se transformou na passagem aérea, tudo aquilo que tínhamos desapareceu. É hora de iniciar a nossa reconstrução, de começarmos de novo, do zero, outra vez. Aqui vamos nos deparar com a infinita necessidade de renovação do título.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Renovação mode on
Você não é mais a mesma pessoa, você mudou. Mudou e se mudou, foi para outro lugar. Teve que enfrentar seus medos, chamar seus fantasmas para a porrada, procurar se entender, abrir o peito, respirar fundo e se encher de coragem. Agora, já na sua nova vida, é o momento de começar a se renovar.
A aprender o tão temido inglês, a achar as comidas antes nunca experimentadas deliciosas, a mapear a nova cidade, a ver o sol se pôr no mar e não nascer como de costume. A cada instante ou novo dia, a cada conversa ou possível nova amizade, você estará se renovando. É necessário e importante que isso aconteça, pois se não houver essa renovação, você vai sofrer.
Nós que moramos fora entendemos logo (ou deveríamos) que, além da força de vontade, da coragem e do desprendimento em se jogar pelo mundo, nós temos que ter uma capacidade de renovação infinita. Morando fora, a gente aprendeu que, ou nos renovamos, ou voltaremos de onde viemos.
Que, quem teima em continuar sendo quem sempre foi, tende a se dar muito mal. Renascemos a cada novo dia, vamos nos reconstruindo em todos os instantes, juntando nossos pedaços e nos tornando quem ainda não éramos. Não é uma opção, é uma obrigação, e nós sabemos disso.
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