Eu sei que a pressão de “dar certo” é, praticamente e geralmente, para todo mundo. Acontece que quando vamos morar fora, a pressão aumenta de maneira exponencial. Há uma falsa ideia de que quem mora fora não pode “dar errado” e, por isso, eu considero como a jornada de quem não pode fracassar.
Minhocas na cabeça
Se jogar não é para qualquer um e é muito comum cruzar pelo caminho com pessoas que insistem em colocar minhocas na nossa cabeça. Obviamente que elas começam antes da partida, mas pela estrada ainda encontramos criaturas que insistem nas minhocas. E as tais minhocas vão desde comentários inoportunos a comparações, no mínimo, desonestas. Você provavelmente ouviu a famosa “vai viver do quê?”, mas também deve ter escutado que “a filha de não sei quem foi para não sei onde e está maravilhosamente bem” como quem diz: “se ela consegue, você TEM OBRIGAÇÃO de conseguir!”.
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Caminhos distintos
Cada um com a sua história, cada qual com a sua trajetória, cada pé com o seu sapato. Aqui do lado de fora a gente está numa luta maluca para tentar se manter de pé e, mesmo que tenhamos vontade de compartilhar o que passamos, cada pessoa que topa a loucura de morar fora irá trilhar o seu caminho de maneira totalmente distinta.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Correr para onde?
Voltando ao fato de quem quem mora fora é “obrigado” a dar certo, me peguei pensando na pressão que isso significa quando uma pessoa próxima não aguentou e voltou. Isso porque ela ouviu barbaridades durante esse processo, coisas que ferem até as almas mais fortes. Ela não tinha para onde correr e, morando fora, muitas vezes estamos à deriva no mar de uma jornada complicada.
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Os críticos
Na maior parte das vezes, as pessoas que criticam quem arriscou tudo e se jogou está deitada em berço esplêndido sobre um colchão de certezas que paira na nuvem da zona de conforto. E, lá de cima, se sente no direito de achar isso ou aquilo da vida de quem “é maluco e nem sabe do que vai viver” e topou colocar a mochila nas costas e partir.
Partimos porque sim
Ei, vai por mim. Não gaste energia tentando descobrir o que nos fez partir, você jamais entenderia e nunca irá entender. Nós partimos porque sim, fomos embora porque somos curiosos e loucos, porque acreditamos que no começo ou no final do arco-íris está um pote de ouro. Mas não pense que é o ouro de grana, é o nosso ouro. O ouro da risada de quem realizou o sonho de morar fora, o ouro de quem aprendeu uma nova palavra do novo idioma, o ouro de quem, ainda em tempo e nesta vida, percebeu que o mundo é maior do que o seu quarto.
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Pressão, pressão e mais pressão
Ok, a pressão faz parte da guerra. Eu sei que a nossa atitude em partir deixou alguns chateados, mas pode acreditar que quem fica chateado está assim justamente por não conseguir ter o nosso desprendimento e porque, no mais dos mais, queria mesmo é ter a nossa coragem.
Não é por grana, não é por status, não é por um sentimento comum. A jornada de quem não pode fracassar é dura, mas cheia de suspiros e sentimentos de vitória. Não são grandes vitórias, é coisinha boba mesmo. É não dar mais bola para o frio, é aprender a comer alimentos diferentes, é “dar baile” na língua que, nem faz tanto tempo assim, era um bicho de sete cabeças.
E assim, encontrando um pote de ouro aqui e outro acolá, a gente vai firme na causa, não esmorece. Nós sabemos e aprendemos duramente que a jornada é longa e, muitas vezes, bastante difícil. Porém, isso também não nos fará desistir. E sabe o que mais nos encanta na pressão de não podermos errar?
É que a gente erra, erra muito, mas quem não torce por nós nem fica sabendo. Os que não conseguem sair lá da nuvem da zona de conforto jamais compreenderão a grandeza do fenômeno e do processo que é deixar de ser uma larva lenta para se tornar uma bela borboleta com asas fortes, fabulosas e que voa sem medo do vento, da chuva, do pássaro faminto ou de qualquer outra adversidade.